Como surgiu tudo isto - Parte 1







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Esboços feitos no Hospital Garcia de Orta, enquanto esperava o nascimento
do Miguel. Como não fumo, exorcizei os nervos com canetas.


Importava que estivesses agora aqui 
Importava que tu soubesses que ontem durante a noite mergulhou uma estrela cadente no meu sonho
Importava que eu não conservasse nada teu… porque isso seria admitir que poderia esquecer.
Importava que hoje mesmo me beijasses a cara
Me tocasses no peito
Me olhasses por cima do teu ombro,
Me contasses um segredo
Olha, hoje importava que me desses uma Lua das tuas
Hoje importava-me o teu terraço com vista para as aguarelas do mar
Hoje queria ver-te.
Queria esfregar-me na tua ferida.
Ficar doente e abrigar-me na tua cama,
Hoje, mais do que nunca, importava que tu soubesses que te amo hoje mais do que nunca.



Um poema de João Carlos Lages



Há 2 meses atrás comecei a pensar de que forma poderia fazer uma surpresa à Natalina, no dia em que ela fizesse 40 anos (no próximo dia 17 de Julho). 40 Anos é de facto uma idade que eu considero muito importante, não pelo número em si, mas porque considero ser o início de uma fase onde a experiência adquirida e um corpo ainda em forma e jovem (isto claro se tivermos cuidado com ele) se fundem na perfeição. Ou seja, é o momento em que vivemos a vida no seu máximo potencial. Mas a bem da verdade, as minhas intenções não se limitaram a esta questão. Na verdade, tudo isto é apenas o álibi para algo maior. Muito maior. No limite, o meu objectivo era prestar uma homenagem à mulher que amo. A mulher que me acompanha, me abriga nos momentos maus e me ajuda a voar mais alto nos momentos bons. Alguém que vê em mim o que nem eu vejo em mim próprio. A mulher que me aceita, mesmo os piores defeitos, aqueles de que queremos sempre esconder dos outros.

Viver com alguém, construir uma Família é uma das tarefas mais difíceis, estimulantes e desafiadoras com que um ser humano se pode deparar ao longo da sua vida. É uma Demanda, uma Peregrinação ao mais fundo de nós mesmos e do outro, no sentido mais místico e iniciático que se possa imaginar. É por esta razão que muitos desistem no caminho. Por vezes cedo de mais. Por vezes tarde mais. Dizem os biólogos que o propósito do ser humano - tal como qualquer outro ser vivo - é a procriação. Eu iria mais longe... o nosso propósito, porque somos seres pensantes mas nem sempre inteligentes, é construir pontes, laços, afectos. É tatuar os outros e deixar que os outros nos tatuem. Só assim a vida tem sentido.

Não sei o que o futuro me / nos guarda. Nunca sabemos. Se há coisa que esta maldita crise nos ensina é isso mesmo... viver no presente, celebrar o presente. Os budistas afirmam isso há séculos... O passado já não existe, o Futuro ainda não existe, o Presente é uma dádiva. Por isso mesmo quero homenagear um momento, um sentimento, um caminho percorrido. Quero celebrar cada pegada que vejo no percurso de uma Vida. Primeiro as pegadas de apenas dois pés. Sozinho. Depois de mais dois pés, bem juntos aos meus (e que a espuma dos dias por vezes afasta um pouco aqui e ali). Um pouco mais à frente surgem por artes mágicas mais dois pares de pés pequeninos. E a ziguezaguear à nossa volta, pegadas dos amigos de 4 patas que nos protegeram e ainda protegem. Sempre.

"Na minha cabeça cabem muitos coisas!", declarava solenemente o meu filho mais velho quando tinha dimensões pouco maiores que um boneco Action Man, e poucas mais palavras sabia do que o boneco Woody, quando lhe puxamos a corda. Como eu o compreendo... na minha cabeça passa-se exactamente o mesmo. As ideias por vezes são tantas que se atropelam, entrelaçam, enleiam-se e acabam por morrer sufocadas. E como dizem os sábios, uma ideia que não se torna palavra é uma má ideia. E uma palavra que não se torna acção é uma má palavra. E disto, meus amigos... está este mundo maluco cheio. Por isso mesmo, quando um dia de manhã abri os olhos e vi à minha frente, num relâmpago, todos os passos que teria de dar para criar um evento através do qual eu pudesse prestar homenagem à mulher que amo - e porque é na partilha que todas as peças se juntam, para que todos vocês pudessem também prestar homenagem aos seres que amam -, agarrei essa ideia com unhas e dentes. E meti mãos à obra.

E o primeiro passo foi pedir a um grande amigo, o João  "aquele-que-faz-amor-com-as-palavras" Carlos Lages, que me escrevesse um pequeno texto sobre o Amor. algo arrebatador, como um orgasmo. Este poema integrou todos os documentos que tive de produzir para dar início a este evento.

Mas isso fica para um próximo post.

4 comentários:

  1. maravilhosa a ideia que já é palavra e seguramente será acção !

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  2. ...esboços mai lindos (parte piégas)e muita bons!! (comentário á homem) !?!?
    Muita bom, tenho muito e muitos, agora acho que passei esta febre de desenhar à minha mai nova, é uma máquina de desenhar, não pára, eu que sou "apegado" ás coisas sou incapaz de deitá-los fora!?

    Sobre o "isto" aqui, a Natalina deve ser uma miúda cheia de sorte!!! Parabéns

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  3. Paulo, não consigo deixar de ler as tuas palavras com uma lágrima no canto do olho! Não, porque me traga tristeza, mas sim pela beleza do sentimento que teimas em partilhar com o mundo! Adoro a iniciativa, nós mulheres gostamos de ser mimadas, e sem dúvida esta GRANDE demonstração de AMOR público é sinomimo de grandeza interior, de valores e de princípios. Muitos parabéns... fazes-me acreditar no AMOR, e de que é possível vive-lo intensamente com alguém, numa altura em que o egoísmo e o individualismo inundam os Homens.
    Obrigada.

    Leonor Barreiros

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  4. Obrigado pessoal, pela gentileza e simpatia das vossas palavras. Esta coisa louca a que chamamos vida só faz algum sentido se criarmos pontes, laços, afectos. De outra forma não vale a pena viver.

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